quinta-feira, 21 de junho de 2012

A Inclusão do Deficiente Auditivo na Escola


 
A inclusão dos portadores de necessidades especiais é um desafio no Brasil. Ao se tratar do deficiente auditivo, esbarramos em diversos problemas como: a falta de comunicação oral, que prejudica o aprendizado, a aplicação de metodologias não contextualizadas com a realidade do aluno, e a falta de preparo dos profissionais que atuam nessa área.
Além disso, contamos também com problemas sociais que precisam ser superados, o que na maioria das vezes são frutos da falta  de esforços do poder público, das associações e da sociedade em geral, no sentido de promover melhoria de vida de forma coletiva,igualitária e democrática.
Entretanto, para nós como membros da sociedade, nos cabe lutar por melhorias significativas, nos inclua em uma sociedade onde possamos todos viver com as nossas diferenças, as nossas deficiências. Como profissionais de educação, nosso papel o de adaptar o sistema escolar às necessidades dos alunos. A inclusão propõe um único sistema educacional de qualidade para todos os alunos, com ou sem deficiência e com ou sem outros tipos de condições atípicas.
            O reconhecimento de uma sociedade, cuja base está assentada no multiculturalismo, exige que suas instâncias sejam capazes de identificar a diversidade do seu contexto e de dar respostas aos diferentes interesses, desejos e necessidades de seus sujeitos.
            Levando em consideração que o deficiente auditivo é tão antigo quanto o homem, percebemos que com o passar do tempo o que variou foi a forma como cada civilização se comportou diante do ser “diferente”. Assim, o mesmo não precisa ser incluído, pois ele está incluído apesar de toda discriminação da qual sempre foi vítima. Incluso em uma sociedade discriminadora e preconceituosa, o deficiente auditivo assim rotulado passa a necessitar de auxílio dos membros desta sociedade que o rejeita para sua sobrevivência o desenvolvimento. Ou seja, passa a requerer de seus familiares, seus professores, seus amigos, alguém que os oriente como lidar com um ser tão “excludente”. Os professores comprometidos com a proposta da inclusão devem acreditar no potencial desses alunos, no seu desempenho para que os mesmos sintam-se úteis na sociedade.
            Dentro do processo de exclusão social e escolar, resultante de uma "pseudo homogeneidade", está a população com necessidades especiais, caracterizada como aquela que possui evidentes traços que a colocam em situação diferente da população em geral. Porém esses traços não são os maiores determinantes de seu sucesso ou fracasso escolar, mas sim a qualidade do trabalho pedagógico com ela realizado.
            Na prática, percebemos as transformações ocorridas a cerca do favorecimento do desenvolvimento global das pessoas com necessidades especiais através do respaldo de preceitos teóricos como: a Constituição Federal (1988), a Declaração de Educação para Todos (1990), Declaração de Salamanca - Necessidades especiais em sala de aula (1994), LDB nº 9394/96, e Decretos e Legislações suplementares em nível estadual e municipal. A garantia do cumprimento das normativas contidas nesses documentos passa pela política de formação do professor e a existência de um projeto político pedagógico que conheça tais diferenças e garanta a construção de uma escola para todos, assentado no princípio social da inclusão. Isso implica em preparar os professores para que estejam comprometidos com a aprendizagem e o desenvolvimento de seus alunos, atentos para as diversidades de modo geral.
            O aluno surdo é capaz de realizar ações inteligentes, desde que lhe propiciem um contexto interativo partindo de situações significativas. Desta forma, a inclusão do aluno surdo no ensino regular é determinante para o seu desenvolvimento. Sabemos, porém que as dificuldades de interação podem acarretar pouca ou nenhuma socialização com as pessoas ouvintes, e por isso necessitam de intervenções pedagógicas. Sendo assim, a educação especial não mais pode ser olhada como um sistema paralelo à educação geral e sim dela faça parte como um conjunto de recursos pedagógicos e de serviço de apoio, que facilitem a aprendizagem de todos esses alunos incluídos no ensino regular.
            Há algum tempo, trabalhei em uma escola que se denominava inclusiva. Problemas administrativos à parte, o que mais me incomodava era a visão que aquelas pessoas tinham de inclusão. Todos da classe eram vistos como deficientes: uns com deficiência física, outros mental, um auditivo e, os que aparentemente nada tinham, eram rotulados autistas ou hiperativos. 
            Apesar dos grandes problemas encontrados (pois além de tudo, cada criança estava em uma série distinta do outro), ao me deparar com o deficiente auditivo tive um grande medo de não conseguir me fazer entender. Medo este muito normal, visto que eu não tinha conhecimento algum de LIBRAS. Desta forma, começo a ver que o maior problema da inclusão é encontrar profissionais preparados para lidar com ela.
            Não se pode 'jogar' a criança surda em uma escola ou em uma classe comum, alegando a necessidade de 'inseri-la' na escola regular; essa atitude mostra que não há um reconhecimento da necessidade da criança surda de ter um atendimento cuidadoso, para que desenvolva suas habilidades comunicativas.
            A escola comum precisa dispor de recursos que tornem viável o processo de inclusão, como por exemplo:
* Assessoria em relação à língua de sinais, se a criança tiver linguagem oral restrita e às estratégias adequadas para propiciar o diálogo, na linguagem oral e/ou escrita;
* Material concreto e visual que sirva de apoio para garantir a assimilação de conceitos novos;
* Contato com professores que tenham vivenciado situações semelhantes;
* Orientação de professores da Educação Especial - itinerantes ou de salas de recursos. * Podem ser feitas reuniões para trocar experiências e esclarecer dúvidas.
            O conteúdo curricular a ser desenvolvido para o aluno surdo é exatamente o mesmo trabalhado com os alunos ouvintes, com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). São necessárias adaptações curriculares para atender à especificidade da clientela, seja na escola especial ou na regular. O uso de materiais variados (jornais, revistas, propagandas, noticiários de TV, computadores etc.) contribui para motivar os alunos, mantê-los atualizados em relação aos acontecimentos do mundo e dar-lhes uma visão ampla dos acontecimentos.
            O que caracteriza o aluno (surdo ou não) é sua capacidade de aprendizagem e não a deficiência que apresenta. Existe um sujeito com potencial, no qual se deve investir.
             Deve reconhecer-se que a integração dos alunos com necessidades educativas especiais implica muito mais do que colocar simplesmente o aluno numa escola regular.      A simples transferência do aluno portador de deficiência para a sala de aula comum só vai garantir a convivência com os colegas. Para o sucesso acadêmico, por menor que seja, são necessárias mudanças estruturais, pedagógicas, até para que o professor não se sinta responsável por falhas que não lhe dizem respeito diretamente.
            A escola inclusiva depende de adaptações de grande e médio porte. As de grande porte são de responsabilidade dos órgãos federais, estaduais e municipais de educação; as pequenas mudanças competem aos professores, que devem procurar recursos para especializar-se.
Os princípios norteadores da educação em nosso país ainda são baseados na normalização e integração que não priorizam o respeito às diferenças. A realidade tem demonstrado que os direitos de todos os deficientes só vão se efetivar se houver na sociedade mudanças de atitudes que estão enraizadas em valores fortemente construídos.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

 BERTOCHI, Marilza Célia. A luta pela inclusão social da pessoa portadora de necessidades especiais. In Revista Leopoldianum. Santos, São Paulo: Universitária, 1998.
GOLDFELD, Márcia. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sócio-interacionista. São Paulo: Plexus, 1997.
QUADROS, Ronice Muller. Educação de surdos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
Couto-Lenzi, A. - A integração das pessoas surdas. Espaço, v.7 (jan./jun.), p.22-25, 1997.
Soares, M.A.L. - A educação do surdo no Brasil. Campinas, SP: Autores Associados; Bragança Paulista: EDUSF, 1999.

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