A inclusão dos
portadores de necessidades especiais é um desafio no Brasil. Ao se tratar do
deficiente auditivo, esbarramos em diversos problemas como: a falta de
comunicação oral, que prejudica o aprendizado, a aplicação de metodologias não
contextualizadas com a realidade do aluno, e a falta de preparo dos
profissionais que atuam nessa área.
Além disso,
contamos também com problemas sociais que precisam ser superados, o que na
maioria das vezes são frutos da falta de
esforços do poder público, das associações e da sociedade em geral, no sentido
de promover melhoria de vida de forma coletiva,igualitária e democrática.
Entretanto,
para nós como membros da sociedade, nos cabe lutar por melhorias
significativas, nos inclua em uma sociedade onde possamos todos viver com as
nossas diferenças, as nossas deficiências. Como profissionais de educação,
nosso papel o de adaptar o sistema escolar às necessidades dos alunos. A
inclusão propõe um único sistema educacional de qualidade para todos os alunos,
com ou sem deficiência e com ou sem outros tipos de condições atípicas.
O reconhecimento
de uma sociedade, cuja base está assentada no multiculturalismo, exige que suas
instâncias sejam capazes de identificar a diversidade do seu contexto e de dar
respostas aos diferentes interesses, desejos e necessidades de seus sujeitos.
Levando
em consideração que o deficiente auditivo é tão antigo quanto o homem, percebemos
que com o passar do tempo o que variou foi a forma como cada civilização se
comportou diante do ser “diferente”. Assim, o mesmo não precisa ser incluído, pois
ele está incluído apesar de toda discriminação da qual sempre foi vítima.
Incluso em uma sociedade discriminadora e preconceituosa, o deficiente auditivo
assim rotulado passa a necessitar de auxílio dos membros desta sociedade que o
rejeita para sua sobrevivência o desenvolvimento. Ou seja, passa a requerer de
seus familiares, seus professores, seus amigos, alguém que os oriente como
lidar com um ser tão “excludente”. Os professores comprometidos com a proposta
da inclusão devem acreditar no potencial desses alunos, no seu desempenho para
que os mesmos sintam-se úteis na sociedade.
Dentro
do processo de exclusão social e escolar, resultante de uma "pseudo
homogeneidade", está a população com necessidades especiais, caracterizada
como aquela que possui evidentes traços que a colocam em situação diferente da
população em geral. Porém
esses traços não são os maiores determinantes de seu sucesso ou fracasso
escolar, mas sim a qualidade do trabalho pedagógico com ela realizado.
Na
prática, percebemos as transformações ocorridas a cerca do favorecimento do
desenvolvimento global das pessoas com necessidades especiais através do
respaldo de preceitos teóricos como: a Constituição Federal (1988), a
Declaração de Educação para Todos (1990), Declaração de Salamanca -
Necessidades especiais em sala de aula (1994), LDB nº 9394/96, e Decretos e
Legislações suplementares em nível estadual e municipal. A garantia do
cumprimento das normativas contidas nesses documentos passa pela política de
formação do professor e a existência de um projeto político pedagógico que
conheça tais diferenças e garanta a construção de uma escola para todos,
assentado no princípio social da inclusão. Isso implica em preparar os
professores para que estejam comprometidos com a aprendizagem e o
desenvolvimento de seus alunos, atentos para as diversidades de modo geral.
O
aluno surdo é capaz de realizar ações inteligentes, desde que lhe propiciem um
contexto interativo partindo de situações significativas. Desta forma, a
inclusão do aluno surdo no ensino regular é determinante para o seu
desenvolvimento. Sabemos, porém que as dificuldades de interação podem
acarretar pouca ou nenhuma socialização com as pessoas ouvintes, e por isso
necessitam de intervenções pedagógicas. Sendo assim, a educação especial não
mais pode ser olhada como um sistema paralelo à educação geral e sim dela faça
parte como um conjunto de recursos pedagógicos e de serviço de apoio, que
facilitem a aprendizagem de todos esses alunos incluídos no ensino regular.
Há
algum tempo, trabalhei em uma escola que se denominava inclusiva. Problemas
administrativos à parte, o que mais me incomodava era a visão que aquelas
pessoas tinham de inclusão. Todos da classe eram vistos como deficientes: uns
com deficiência física, outros mental, um auditivo e, os que aparentemente nada
tinham, eram rotulados autistas ou hiperativos.
Apesar
dos grandes problemas encontrados (pois além de tudo, cada criança estava em
uma série distinta do outro), ao me deparar com o deficiente auditivo tive um
grande medo de não conseguir me fazer entender. Medo este muito normal, visto
que eu não tinha conhecimento algum de LIBRAS. Desta forma, começo a ver que o
maior problema da inclusão é encontrar profissionais preparados para lidar com
ela.
Não
se pode 'jogar' a criança surda em uma escola ou em uma classe comum, alegando
a necessidade de 'inseri-la' na escola regular; essa atitude mostra que não há
um reconhecimento da necessidade da criança surda de ter um atendimento
cuidadoso, para que desenvolva suas habilidades comunicativas.
A
escola comum precisa dispor de recursos que tornem viável o processo de
inclusão, como por exemplo:
* Assessoria em relação à língua
de sinais, se a criança tiver linguagem oral restrita e às estratégias adequadas
para propiciar o diálogo, na linguagem oral e/ou escrita;
* Material concreto e visual que
sirva de apoio para garantir a assimilação de conceitos novos;
* Contato com professores que
tenham vivenciado situações semelhantes;
* Orientação de professores da
Educação Especial - itinerantes ou de salas de recursos. * Podem ser feitas
reuniões para trocar experiências e esclarecer dúvidas.
O
conteúdo curricular a ser desenvolvido para o aluno surdo é exatamente o mesmo
trabalhado com os alunos ouvintes, com base nos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN). São necessárias adaptações curriculares para atender à
especificidade da clientela, seja na escola especial ou na regular. O uso de
materiais variados (jornais, revistas, propagandas, noticiários de TV, computadores
etc.) contribui para motivar os alunos, mantê-los atualizados em relação aos
acontecimentos do mundo e dar-lhes uma visão ampla dos acontecimentos.
O
que caracteriza o aluno (surdo ou não) é sua capacidade de aprendizagem e não a
deficiência que apresenta. Existe um sujeito com potencial, no qual se deve
investir.
Deve
reconhecer-se que a integração dos alunos com necessidades educativas especiais
implica muito mais do que colocar simplesmente o aluno numa escola regular. A simples transferência do aluno portador
de deficiência para a sala de aula comum só vai garantir a convivência com os
colegas. Para o sucesso acadêmico, por menor que seja, são necessárias mudanças
estruturais, pedagógicas, até para que o professor não se sinta responsável por
falhas que não lhe dizem respeito diretamente.
A
escola inclusiva depende de adaptações de grande e médio porte. As de grande
porte são de responsabilidade dos órgãos federais, estaduais e municipais de
educação; as pequenas mudanças competem aos professores, que devem procurar
recursos para especializar-se.
Os princípios norteadores da
educação em nosso país ainda são baseados na normalização e integração que não
priorizam o respeito às diferenças. A realidade tem demonstrado que os direitos
de todos os deficientes só vão se efetivar se houver na sociedade mudanças de
atitudes que estão enraizadas em valores fortemente construídos.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
BERTOCHI, Marilza Célia. A luta pela inclusão social da pessoa portadora
de necessidades especiais. In Revista Leopoldianum. Santos, São Paulo: Universitária,
1998.
GOLDFELD, Márcia. A criança surda: linguagem e cognição numa
perspectiva sócio-interacionista. São Paulo: Plexus, 1997.
QUADROS, Ronice Muller. Educação de surdos. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1997.
Couto-Lenzi,
A. - A integração das pessoas surdas.
Espaço, v.7 (jan./jun.), p.22-25, 1997.
Soares,
M.A.L. - A educação do surdo no Brasil. Campinas,
SP: Autores Associados; Bragança Paulista: EDUSF, 1999.
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