Por Valdilene
de Carle Raposo
1 - Introdução
O presente artigo discute a importância
da família e de que forma as relações familiares interferem no desenvolvimento
das crianças. O estudo contempla a Educação infantil e foi elaborado a partir
da experiência em uma Creche, o Município do Rio de Janeiro.
O
relato contempla a experiência em um ano trabalho em um Espaço de
Desenvolvimento Infantil (EDI), situado na Vila do Vintém, na zona oeste do município
e, desta experiência percebe-se como o ambiente familiar é importante para o
desenvolvimento das crianças. Por diversas vezes, sintomas como apatia, irritação
ou depressão em algumas crianças era causada por um ambiente familiar sem
estrutura afetiva e até mesmo por ausência de participação da mesma.
Segundo Moraes (2007), a atitude básica
para determinar a ação da família deve ser de compreensão e não de censura.
Entretanto, parece que no relacionamento família-escola é justamente isso que
falta, pois a troca de acusações entre elas é frenquente.
A relação entre escola e família precisa
estar em perfeita harmonia para que ocorra um processo de educação eficiente,
uma vez que a escola é uma instituição com o objetivo de complementar o
ambiente familiar. Desta forma, nem a escola deve funcionar sem a família e
vice-versa, pois uma depende diretamente da outra visando o desenvolvimento
social e educacional das crianças.
É necessário estabelecermos uma
aproximação entre escola-família, mas para isso precisamos que ambas estejam
dispostas a trabalharem em forma de co-responsabilidade na educação da criança.
2
- A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
A concepção de infância sofreu
transformações desde a idade média, quando a criança era vista como a miniatura
de um adulto sem nenhuma preocupação em relação à sua formação enquanto um ser
específico, sendo exposta a todo tipo de experiência.
Atualmente, a afetividade passou a ser
atribuída ao conceito de infância, visto que os sentimentos da mesma e sua
valorização passaram a ter maior importância. Desta forma, a Educação Infantil tornou-se
fundamental, pois a aprendizagem deixou de ser atribuição somente da família,
que passou a dividi-la também com a escola.
Nos artigos 2º e 29º da LDB (Lei de Diretrizes
e Bases da Educação, Nº 9394/96), percebemos que a responsabilidade da Educação
Infantil deve ser de forma compartilhada entre família e Estado com a
finalidade de desenvolvimento integral da criança.
Entretanto, nas
palavras de Paro (2000); “parece haver, por um lado, uma incapacidade de
compreensão por parte dos pais, daquilo que é transmitido na escola; por outro
lado, uma falta de habilidade dos professores para promoverem essa comunicação”.
A escola e a família precisam estar em
harmonia para auxiliar as crianças em seu desenvolvimento. A comunicação é
essencial na busca de tirar dúvidas dos pais em relação ao que ocorre no
ambiente escolar e na tentativa de se identificar problemas decorrentes da
interação familiar.
Içami Tiba (1996) afirma que os problemas
de relacionamentos são os mais difíceis de se diagnosticar, pois estão
condicionados a estímulo e resposta. Para o autor, a violência, por exemplo,
pode ser causada quando os pais deixam o filho fazer o que deseja. Desta forma,
a criança cresce acreditando que suas vontades são leis e, se contrariados, podem
reagir com violência.
Durante experiência na Escola Municipal
Vila do Vintém, em uma turma da Creche, uma criança era agressiva com os
colegas e professores, somente tratando de forma diversificada uma funcionária
cujo nome era o mesmo que o de sua mãe. Posteriormente, ficou constatado que a
mãe da criança era excessivamente permissiva e que não impunha limites ao
filho.
Também são comuns distúrbios relacionados
a autoestima, pois esta depende, inicialmente, do amor dos pais ou das figuras
que os substituem.
Durante a experiência retratada anteriormente,
também foi verificado um caso de baixa autoestima, que influenciava diretamente
na aprendizagem da criança. A criança em questão chorava e recusava-se em
realizar as tarefas, pois acreditava não ser capaz de concluí-las. Após
conversa com a mãe da criança, foi constatado que tal comportamento era fruto
de críticas realizadas pelo pai da criança.
O
adulto precisa estar consciente de que a criança aprende segundo os modelos que
observa. O exemplo das pessoas que convivem com ela são importantes, sejam eles
bons ou ruins. De acordo com Augusto Cury (2003), os vínculos definem a
qualidade da relação, pois as crianças registram todos os comportamentos de
seus pais. Tais registros não podem ser apagados, podem ser apenas substituídos
por novas experiências.
Segundo
Piaget (2000), “Uma ligação estreita e continuada entre os professores e os
pais leva, pois a muita coisa mais que a uma informação mútua: este intercâmbio
acaba resultando em ajuda recíproca e, frequentemente, em aperfeiçoamento real
dos métodos. Ao aproximar a escola da vida ou das preocupações profissionais
dos pais, e ao proporcionar, reciprocamente, aos pais um interesse pelas coisas
da escola, chega-se até mesmo a uma divisão de responsabilidades...”.
Considerando
que os aspectos afetivos são inseparáveis dos cognitivos verifica-se que o
desenvolvimento da linguagem, por exemplo, é apoiado na motivação de se
comunicar. Esta motivação é enriquecida nos primeiros anos de vida durante as
experiências interpessoais com mãe, pai, irmãos e educadores. O psicólogo Lev
Semenovich Vygotsky também considerou as relações entre afeto e cognição postulando
que as emoções integram-se ao funcionamento mental geral, tendo uma
participação ativa em sua configuração.
Apesar
da afetividade ser fundamental para o desenvolvimento infantil, não é permitido
que ela interfira no cumprimento ético da educação. Zagury (2007), enfatiza que
a ética não pode ser esquecida no estabelecimento de padrões que nortearão a
conduta educacional, pois o legado moral que é passado para uma criança pode
determinar futuramente até mesmo uma mudança de valores na sociedade.
3 - Conclusão
Através deste trabalho pode-se perceber
que a infância é a fase da vivência e percepção do mundo a partir do olhar,
tocar, saborear, sentir e agir. Desta forma, as interações são essenciais para
o desenvolvimento infantil.
As crianças aprendem seguindo exemplos,
imitando pessoas próximas. O adulto precisa ser coerente entre o que diz e o
que faz.
A família não está mais sozinha com a
responsabilidade de educar a criança; a escola, a comunidade, o Estado, todos
são importantes no processo educativo. Entretanto, é preciso haver parceria
entre as partes com a finalidade de se desenvolver integralmente a criança.
É preciso comprometimento, responsabilidade
e ética na formação de cidadãos críticos e autônomos. Para isso, a educação
emocional deve ser considerada, pois pessoas seguras emocionalmente são mais
felizes e capazes de transformar a sociedade da qual fazem parte.
Por isso, conforme afirmou Paulo Freire
(1996): “Acreditamos que a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela
tampouco a sociedade muda. Se a nossa opção é progressiva, se estamos a favor
da vida e não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito e não do
arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não temos outro
caminho se não viver a nossa opção. Encarná-la, diminuindo, assim, a distância
entre o que dizemos e o que fazemos”.
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