quinta-feira, 21 de junho de 2012

Educação infantil: A Família como vai?


Por Valdilene de Carle Raposo




1 - Introdução
O presente artigo discute a importância da família e de que forma as relações familiares interferem no desenvolvimento das crianças. O estudo contempla a Educação infantil e foi elaborado a partir da experiência em uma Creche, o Município do Rio de Janeiro.
            O relato contempla a experiência em um ano trabalho em um Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI), situado na Vila do Vintém, na zona oeste do município e, desta experiência percebe-se como o ambiente familiar é importante para o desenvolvimento das crianças. Por diversas vezes, sintomas como apatia, irritação ou depressão em algumas crianças era causada por um ambiente familiar sem estrutura afetiva e até mesmo por ausência de participação da mesma.
Segundo Moraes (2007), a atitude básica para determinar a ação da família deve ser de compreensão e não de censura. Entretanto, parece que no relacionamento família-escola é justamente isso que falta, pois a troca de acusações entre elas é frenquente.
A relação entre escola e família precisa estar em perfeita harmonia para que ocorra um processo de educação eficiente, uma vez que a escola é uma instituição com o objetivo de complementar o ambiente familiar. Desta forma, nem a escola deve funcionar sem a família e vice-versa, pois uma depende diretamente da outra visando o desenvolvimento social e educacional das crianças.
É necessário estabelecermos uma aproximação entre escola-família, mas para isso precisamos que ambas estejam dispostas a trabalharem em forma de co-responsabilidade na educação da criança.

2 - A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
A concepção de infância sofreu transformações desde a idade média, quando a criança era vista como a miniatura de um adulto sem nenhuma preocupação em relação à sua formação enquanto um ser específico, sendo exposta a todo tipo de experiência.
Atualmente, a afetividade passou a ser atribuída ao conceito de infância, visto que os sentimentos da mesma e sua valorização passaram a ter maior importância. Desta forma, a Educação Infantil tornou-se fundamental, pois a aprendizagem deixou de ser atribuição somente da família, que passou a dividi-la também com a escola.
Nos artigos 2º e 29º da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Nº 9394/96), percebemos que a responsabilidade da Educação Infantil deve ser de forma compartilhada entre família e Estado com a finalidade de desenvolvimento integral da criança.
Entretanto, nas palavras de Paro (2000); “parece haver, por um lado, uma incapacidade de compreensão por parte dos pais, daquilo que é transmitido na escola; por outro lado, uma falta de habilidade dos professores para promoverem essa comunicação”.
A escola e a família precisam estar em harmonia para auxiliar as crianças em seu desenvolvimento. A comunicação é essencial na busca de tirar dúvidas dos pais em relação ao que ocorre no ambiente escolar e na tentativa de se identificar problemas decorrentes da interação familiar.
Içami Tiba (1996) afirma que os problemas de relacionamentos são os mais difíceis de se diagnosticar, pois estão condicionados a estímulo e resposta. Para o autor, a violência, por exemplo, pode ser causada quando os pais deixam o filho fazer o que deseja. Desta forma, a criança cresce acreditando que suas vontades são leis e, se contrariados, podem reagir com violência.
Durante experiência na Escola Municipal Vila do Vintém, em uma turma da Creche, uma criança era agressiva com os colegas e professores, somente tratando de forma diversificada uma funcionária cujo nome era o mesmo que o de sua mãe. Posteriormente, ficou constatado que a mãe da criança era excessivamente permissiva e que não impunha limites ao filho.
Também são comuns distúrbios relacionados a autoestima, pois esta depende, inicialmente, do amor dos pais ou das figuras que os substituem.
Durante a experiência retratada anteriormente, também foi verificado um caso de baixa autoestima, que influenciava diretamente na aprendizagem da criança. A criança em questão chorava e recusava-se em realizar as tarefas, pois acreditava não ser capaz de concluí-las. Após conversa com a mãe da criança, foi constatado que tal comportamento era fruto de críticas realizadas pelo pai da criança.
            O adulto precisa estar consciente de que a criança aprende segundo os modelos que observa. O exemplo das pessoas que convivem com ela são importantes, sejam eles bons ou ruins. De acordo com Augusto Cury (2003), os vínculos definem a qualidade da relação, pois as crianças registram todos os comportamentos de seus pais. Tais registros não podem ser apagados, podem ser apenas substituídos por novas experiências.
            Segundo Piaget (2000), “Uma ligação estreita e continuada entre os professores e os pais leva, pois a muita coisa mais que a uma informação mútua: este intercâmbio acaba resultando em ajuda recíproca e, frequentemente, em aperfeiçoamento real dos métodos. Ao aproximar a escola da vida ou das preocupações profissionais dos pais, e ao proporcionar, reciprocamente, aos pais um interesse pelas coisas da escola, chega-se até mesmo a uma divisão de responsabilidades...”.
            Considerando que os aspectos afetivos são inseparáveis dos cognitivos verifica-se que o desenvolvimento da linguagem, por exemplo, é apoiado na motivação de se comunicar. Esta motivação é enriquecida nos primeiros anos de vida durante as experiências interpessoais com mãe, pai, irmãos e educadores. O psicólogo Lev Semenovich Vygotsky também considerou as relações entre afeto e cognição postulando que as emoções integram-se ao funcionamento mental geral, tendo uma participação ativa em sua configuração.
            Apesar da afetividade ser fundamental para o desenvolvimento infantil, não é permitido que ela interfira no cumprimento ético da educação. Zagury (2007), enfatiza que a ética não pode ser esquecida no estabelecimento de padrões que nortearão a conduta educacional, pois o legado moral que é passado para uma criança pode determinar futuramente até mesmo uma mudança de valores na sociedade.

3 - Conclusão
Através deste trabalho pode-se perceber que a infância é a fase da vivência e percepção do mundo a partir do olhar, tocar, saborear, sentir e agir. Desta forma, as interações são essenciais para o desenvolvimento infantil.
As crianças aprendem seguindo exemplos, imitando pessoas próximas. O adulto precisa ser coerente entre o que diz e o que faz.
A família não está mais sozinha com a responsabilidade de educar a criança; a escola, a comunidade, o Estado, todos são importantes no processo educativo. Entretanto, é preciso haver parceria entre as partes com a finalidade de se desenvolver integralmente a criança.
É preciso comprometimento, responsabilidade e ética na formação de cidadãos críticos e autônomos. Para isso, a educação emocional deve ser considerada, pois pessoas seguras emocionalmente são mais felizes e capazes de transformar a sociedade da qual fazem parte.
Por isso, conforme afirmou Paulo Freire (1996): “Acreditamos que a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Se a nossa opção é progressiva, se estamos a favor da vida e não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não temos outro caminho se não viver a nossa opção. Encarná-la, diminuindo, assim, a distância entre o que dizemos e o que fazemos”.

Referência Bibliográfica

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CHALITA, Gabriel. Educação. A solução está no afeto. São Paulo: Gente, 2004. ISBN-10: 8573123222

CRAIDY, Carmen Maria; KAERCHER Gladis E. (Org).  Educação infantil - Pra que te quero? Editora Artmed. ISBN-10: 8573077700

CURY, A. J. Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. ISBN-10 85-7542-085-2

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. ISBN-13 978-85-7753-015-1.
                           
OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Educação Infantil: Fundamentos e Métodos. São Paulo: Editora Cortez, 2010. 5º Edição. ISBN – 10 8524915749
              
PARO, V. H. Qualidade do ensino: A contribuição dos pais. São Paulo: Xamã, 2000. ISBN-10: 8585833661

PIAGET, J. Para onde vai a educação. Ed. 15a edição. Rio de Janeiro: José Olympio, 1972/2000. ISBN-10: 8503002515

TIBA, Içami. Disciplina, limite na medida certa. São Paulo: Editora Gente, 1996 – 1º Edição. ISBN-10 85-7312-072-X
                           
ZAGURY, Tânia. Educar sem culpa: A Gênese da Ética. Rio de Janeiro: BestBolso, 2008. ISBN-13 978-85-7799-087-0

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